
A viagem começa no Tejo. Não porque estou no rio, mas porque nele repouso o meu olhar. Atravesso-o vezes sem conta..sem contar com as vezes que fico a pairar.
Os cacilheiros no seu vai e vem, rasgam a paisagem com a doçura de um pincel, ao longe. Volto a mim. A mim não.
Aos que me rodeiam. aos que me contextualizam.
Não são muitos neste caso. Mas ganharam vida. Identidade. Sem nome, representam um esterótipo, todos representamos. Quanto mais não seja, pertencemos ao esterótipo dos que não pertencem a estereótipos. Redundante sim, mas conclusivo.
Deixo-me guiar pelo instinto, percorrendo quem, ou o que, me chama a atenção.
Acho que passei por cada um.
Num ápice as turbinas aquecem e o avião que me transporta descola. Estou noutro país, noutro qualquer tempo, noutro qualquer espaço. Estou no mesmo lugar. e uma criança pequena a sirigaitar também. e um bacano a tocar guitarra, um cigarro aceso a luz solar e um cão.. também. e Gente de várias nacionalidades, e gente de estratos sociais diferentes, de tacão, sem tacão, descalços, com calção, fato e até gravata também. e os que não têm ninguém também. E.. casais, grupos de amigos, meninas a comer gelados ou a beber cerveja, meninos que fumam charros. e eu também.. estava lá.
e idosos e famílias, trabalhadores e sem trabalho...também estavam lá. Pessoas de Aqui e de Acolá.
Uma tranquilidade de quem partilha sem se mostrar.
É por esta altura que te avisto. Na vontade de partilhar o momento, a viagem, o gozar daquela paisagem. o azul, o verde, o teu vermelho..o roxo, o amarelo. o singelo e o mosntruoso.
...Foges ao de leve.
Foi suave esta aterragem. A tua imagem desvanece-se agora no azul do rio...vai dar ao mar. E eu, em jeito de quem agradece, pergunto ao azul, agora, do céu, se um dia me vais encontrar. Não espero respostas.
Levanto-me e sigo o meu caminho. Leve, tranquilo, relaxado.
Quando esse dia chegar, se chegar em algum dia, não será, com certeza, num outro dia qualquer.
Miguel Coutinho